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Há muitos, muitos anos, uma menina inglesa de famílias nobres, chamada Ana de Arfet, apaixonou-se perdidamente por um cavaleiro jovem e belo, mas pobre.
Seu nome era Machim, e também ele se deixou enredar naquele amor proibido. Para pôr fim ao romance, os pais da rapariga pediram a intervenção do próprio rei de Inglaterra, que resolveu o assunto casando-a com um fidalgo de alta linhagem. De nada serviu, porque o par continuou a encontrar-se em segredo, e logo que possível fugiu.
Machim raptou a sua amada pela calada da noite, e embarcaram ambos num pequeno navio que zarpou para França. Mal se tinham afastado do porto, levantou-se um temporal violentíssimo e o navio foi arrastado para o alto mar.
Dias depois avistaram uma ponta de terra coberta de arvoredo que os surpreendeu. Onde estariam? Meteram-se no bote, remaram e foram ver. Não encontraram ninguém e ficaram maravilhados com a beleza da praia e o tamanho das árvores. Uma delas possuía um tronco oco tão largo e espaçoso que podia servir-lhes de abrigo. Machim apressou-se a ir buscar frutos silvestres, acendeu uma fogueira, rodeou Ana de carinho e atenções.
Talvez tenham sido felizes ali algumas horas ou alguns dias, mas Ana vinha enfraquecida pela aflição e pelo enjoo que sofrera a bordo. Morreu pouco depois.
Os companheiros tudo fizeram para animar Machim e convencê-lo de que teria de continuar vida noutro lugar. Ele, porém, não os ouvia. Chorava dia e noite, deixou de comer, acabou por morrer de desgosto junto da sepultura da sua amada. Então os companheiros abriram uma cova mesmo ao lado, para que repousassem juntos eternamente.
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Portugal, História e Lendas
Interpretação
Página 105 – Exercícios:
6.Os apaixonados partiram em segredo, numa noite tempestuosa, a bordo de um navio cuja tripulação defendia a fuga dos jovens. Mas um temível furacão desviou o navio da rota e, ao amanhecer, Machim e Ana descobriam uma ilha belíssima, frondosa e aprazível, onde logo pensaram poder abrigar-se e – quem sabe? – ali viver felizes, longe das mesquinhas leis do mundo. Porém, o destino não o permitiu: enfraquecida pelo desgosto que lhe causara a perseguição da família e a traição do rei, duramente provada pelos terrores da tempestade, Ana não sobreviveu muitos dias no paraíso recém-descoberto. Agora são os marinheiros que rodeiam Machim, o inconsolável, tentando convencê-lo a recuperar a força de viver. Mas naquela ilha tinha ficado o seu coração e ele não teria mais coragem de a abandonar; tão intensamente chorou a perda de Ana, tão teimosamente recusou alimento e descanso, que ele próprio adoeceu gravemente e em breve os companheiros tiveram de abrir um túmulo novo, para que, eternamente, permanecessem juntos aqueles que, em vida, tinham sido um só coração. Machico foi o nome que, anos mais tarde, os navegadores Portugueses deram ao lugar da sua sepultura, pois a história de um grande amor proibido era contada também, de boca a ouvido, por todos os nossos marinheiros.
7.Esta lenda pode transmitir-nos um sentimento de profunda tristeza perante o destino adverso de dois jovens enamorados, contra quem se ergueu injustamente não só o mundo dos homens, mas até a própria Natureza.
8.Acho que foi a única atitude sensata a tomar: temos o dever de lutar por aquilo que amamos.
9. Velho, ancião, idoso; rico, afortunado, pessoa de posses; alguém.
10.Zarpar – termo náutico que significa partir, fazer-se ao mar, sair de um porto.
11. Hora – ora – Homófonas; Segredo (nome) – segredo (verbo) e sede (casa) – sede (desejo de beber) – Homógrafas.
13. A lenda do Machico conta a história do amor contrariado de dois jovens, Ana, aristocrata inglesa e Machim, um cavaleiro pobre.
A pedido dos pais de Ana, o próprio rei de Inglaterra interveio obrigando-a a casar-se com um nobre inglês.
Em resposta, os dois enamorados fugiram, numa noite de tempestade, para França, mas o navio foi arrastado pelas ondas em sentido oposto e aportaram a uma ilha desconhecida.
Poucos dias depois, consumida pela dor e pela fraqueza, Ana morreu nos braços do seu amado inconsolável.
Em vão os companheiros de viagem tentaram ajudá-lo a recuperar o gosto de viver e, recusando alimentar-se, em breve morreu também, vencido pelo desgosto.
Ficaram os dois amantes sepultados na ilha secreta, mas a sua história percorreu os mares na boca dos marinheiros e os navegadores Portugueses baptizaram de Machico a terra santa onde repousa aquele imenso amor.